Entrevista: Carlos Maltz



Maltz

Nestas minhas jornadas diárias pentelhando a internet como um todo, me deparei com uma rara entrevista do Carlos Maltz (ex-batera dos Engenheiros do Hawaii), da época do lançamento do seu único disco solo, o ótimo Farinha do Mesmo Saco (2001). Nela, Maltz comenta sobre a produção do disco, a saída dos Engenheiros e aquela famosa treta com o Raimundos.

O texto vale a pena ser lido, pois revela vários pontos interessantes sobre Maltz, EngHaw e a vida. Além de mostrar como é uma verdadeira banda de rock, onde as ideologias e a arte estão acima de qualquer outra coisa.

Confira a seguir…

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Entrevista com Carlos Maltz, ex-Engenheiros do Hawaii

maltzO ex-baterista dos Engenheiros do Hawaii, Carlos Maltz, praticamente ressurge após vários anos meio na encolha. Durante esses anos em que, para utilizar o nome do disco novo do Ultraje, Maltz ficou “invisível”, ele montou e desmontou uma banda (a Irmandade Interplanetária), passou a trabalhar com astrologia, mudou-se para Brasília e deu poucas entrevistas. Agora Maltz reaparece num projeto solo que utiliza seu sobrenome, e lança o primeiro CD, Farinha do Mesmo Saco, totalmente independente. No disco, ele tocou bateria e violão, trabalhou com alguns outros músicos (ligados à Igreja Messiânica, da qual ele faz parte) e teve a colaboração do Engenheiro-chefe Humberto Gessinger, que deu uma força na produção e gravou vocais, violões e baixos em algumas músicas.

A entrevista que você vai ler agora foi feita por e-mail. Maltz comenta alguns detalhes da gravação do disco, fala um pouco sobre sua saída dos Engenheiros, propagandeia seu site e até comenta alguns problemas do passado, como quando foi criticado pelos Raimundos graças a umas declarações em entrevistas.

Central da Música: Como vai a promoção do disco solo? Você tem feito shows?
Carlos Maltz: Minha gravadora sou eu mesmo…hehe…faço alguns shows por ai, mas não é nada de turnê organizada , essas coisas… ainda…

O que aconteceu com você após a saída dos Engenheiros? Aliás, porque houve a saída? Na época foi noticiado que você e o Gessinger haviam brigado por causa de umas músicas…
Sim, tivemos algumas divergências ideológicas e ficou difícil continuarmos juntos (ver abaixo). Depois que saí dos Engenheiros montei uma banda no Rio, a Irmandade Interplanetária. Gravamos dois CD’s independentes e fizemos alguns shows. Mas ai eu vim morar em Brasília, e a galera ficou no Rio… virei “carreira solo”…

O que mais te influencia musicalmente na sua carreira solo? Senti uma grande influência de rock oitentista, misturada com uma coisa meio rock rural (Sá, Rodrix & Guarabyra, Zé Ramalho, Ednardo…), não sei se procede.
Zé Ramalho, com certeza, mas acho que o Zé não é muito “rural”… Poderíamos dizer: Viajandão…. Sim, “rock viajandão”…

Como você foi parar na Astrologia? É uma paixão recente ou você sempre estudou isso?
Estudo há uns 12 anos… A estória toda está contada no meu site: www.carlosmaltz.com.br, não conto de novo aqui porque é meio longa…. (no site, Maltz diz que entrou em contato com a astrologia aos 30 anos, após ganhar de presente um livro sobre o assunto. A história toda, bem como a bio detalhada de Maltz, está no link http://carlosmaltz.blogspace.net/historia.htm, do site oficial).

Você compôs pouco nos Engenheiros, mas acabou fazendo uma das melhores músicas da carreira da banda (“O castelo dos destinos cruzados”). Você tinha mais músicas guardadas na época?
Não, essa foi a primeira que eu fiz. Não compunha porque não estava voltado para isso, minhas energias estavam concentradas 100% em ser o melhor baterista que eu podia ser para o grupo. Comecei a compor porque comecei a não estar de acordo com algumas letras do Gessinger (ver abaixo), e para não ficar só criticando, resolvi escrever por minha própria conta.

Aliás, como é a sensação de botar um disco quase 100% composto por você, após passar anos tocando as músicas dos outros?
É legal… O Gessinger gravou quase todo o disco junto…Tinha momentos que eu olhava para ele, para ver o que o “chefe” estava pensando…ai lembrava que o “chefe” era eu….

O disco teve colaboração de cinco produtores. Como foi juntar toda essa galera sem dar confusão (se é que não deu) e como foi a participação de cada um?
Bão, esse lance de confusão, de egos em conflito, depende muito de quem está dirigindo os trabalhos, da cabeça do artista…Todo mundo que estava lá, estava para ajudar um amigo, então, a onda era de Paz…Não tivemos esse tipo de problema, ao contrário. Batemos bola numa boa.

Afinal o que é essa Casa de Pedra que se fala no encarte? É um estúdio?
Sim, o antigo “Rock House”, dos amigões Fabio Tabach e Rodrigo Custer. Caras que estão investindo na minha musica há anos….

Você já tinha contato com o Zé Ramalho antes da participação no disco? Como foi que rolou a participação dele?
Sou fã do Zé desde 1977… Mandei uma carta para ele, agradecendo por ele existir, dizendo que ele me mostrou que era possivel fazer letra viajandona em Português… Ele me respondeu de forma super gentil, me mandou um monte de discos raros e coisas escritas por ele…Depois mandei a letra de “Passos do mundo” e convidei-o para gravar. O cara veio… Na maior simplicidade…

Rolou de você ir procurar alguma gravadora, ou você já quis logo partir para o independente?
Mandei o “Farinha” para todas as gravadoras, mas ninguém quis.

Numa entrevista antiga, os Raimundos criticaram você por causa de uma declaração sua a respeito daquele show deles em que houve um acidente seguido de mortes, em Santos – eles disseram que você teria falado que eles colheram o que plantaram, e tal. O que você acha de bandas como Raimundos, Charlie Brown Jr. e Planet Hemp?
Eu era fã dos Raimundos, mas realmente, cada um só colhe o que plantar. Quem semeia vento, colhe tempestade. O Rodolfo hoje sabe do que eu estava falando. Não falei isso para criticá-los, mas para alertar as pessoas que estão em cima do palco, para a responsabilidade eterna que estão arrumando para si e seus descendentes, pela palavra que estão lançando ao vento. A energia da palavra é algo impressionante, objeto de alguns dos estudos mais avançados que existem no mundo hoje, como é o caso do pesquisador japonês Massaru Emoto. Esses caras que estão fazendo apologia as drogas, não fazem a menor idéia do karma que estão arrumando. Sei que esse assunto é polêmico, e não quero que as pessoas se ofendam comigo, não estou querendo criar climas nem ofender ninguém. Sou um estudioso da energia humana, e sofro muito quando vejo as pessoas plantando sofrimento em seu proprio caminho. Se alguém que ler essas palavras se sentir ofendido, ou quiser debater o assunto, terei a maior satisfaçao. É so entrar lá no fórum do meu site e postar a sua opinião, ou pergunta…. (a tal entrevista dos Raimundos, a título de informação, está no CD que veio encartado numa edição de 1999 da revista Trip)

Os Engenheiros passaram por milhares de fases diferentes, marcadas por diferentes relações com a crítica, mudanças na formação, etc. O que deu para aprender sobre o mercado musical do Brasil após esses anos todos atrás da bateria do grupo?
Nunca estive muito interessado nisso. Sou artista, e não picareta de carro, ou publicitário, sei lá. Acho que se dá muita importância a esse tal de mercado… tô nem ai…

Mudando de assunto, e sua antiga banda, Irmandade? Como foi aquele período?
Engraçado… Uma banda legal, cheia de ingenuidade e gente boa….Coisa que não é lá muito facil de encontrar por ai…

O CD de vocês chegou a ser comercializado? Como foram as vendas?
Vendemos pela Internet. Cerca de duas mil copias.

Voltando a sua carreira solo, fala um pouco sobre os músicos que estão tocando com você agora. Como essa formação se juntou?
Bão, tem uma galera lá de São Paulo, são pessoas ligadas ao “momento musical”, da Igreja Messiânica Mundial do Brasil, da qual eu sou integrante.

E seu site, como vai? Você tem tido retorno dos internautas que visitam o site?
Bah….Um monte. Temos um dos fóruns mais visitados do Brasil… e só rola assunto legal, sem baixaria… Quem quiser, é só chegar: www.carlosmaltz.com.br.

1992-carlos-maltz-frenteEm outro contato por e-mail, Carlos Maltz comentou mais um pouco sobre as tais “divergências ideológicas” que, no fim da década de 90, separaram sua música da de Humberto Gessinger: “Em primeiro lugar, quero deixar claro que isso não é uma crítica, apenas opiniões diferentes. Humberto Gessinger é uma pessoa muito querida para mim. Fui provavelmente um dos primeiros caras a terem a oportunidade de reconhecer o seu talento como letrista, e ainda o considero um dos maiores do rock brasileiro, no primeiro time, junto com Renato Russo, Raul, e outros poucos. Mas o fato é que eu segui por um outro caminho e comecei a ver as coisas de um modo diferente. As letras do Gessinger tendem ao existencialismo: ” estamos vivos sem motivos”… Mas ai eu começo a conhecer o espiritualismo, o essencialismo…E descubro que estamos vivos com motivos sim. Descubro que a vida de cada um de nós tem uma finalidade, que é uma coisa sagrada e muito preciosa, e que não temos 1 segundo a perder enquanto estamos aqui na Terra, pois temos pouco tempo para consertar as cagadas que nos mesmos fizemos. Descubro que o tédio e a revolta são apenas covardia, e que estamos reclamando apenas de nós mesmos. Descubro que os únicos culpados por seja lá o que for que nos ocorreu, somos nós mesmos… descubro que o mundo podre do qual nos queixamos é a nossa maior obra, e que estamos colhendo o que plantamos com o nosso pensamento negativo e a nossa falta de amor…

Como é que eu vou continuar cantando: “estamos vivos sem motivos?” Estamos vivos com um motivo mais do que suficiente: nos tornarmos pessoas um pouquinho melhores. Um pouquinho mais honestas, amigas, carinhosas, cuidadosas, elegantes… Pessoas um pouquinho mais merecedoras de respeito e amor. Mas me sinto honrado por termos nos separado por motivos ideológicos. A maioria do pessoal do rock nem sabe o que a palavra ideológico quer dizer. Quando saí da banda, trocentas mil pessoas me criticaram, acharam (e ainda acham) que eu sou burro, doido… “Toda aquela grana!!!! E a fama!!!!” Pois é. Mas eu fui fiel a mim mesmo. E durmo tranquilo. E não uso anti-depressivos… E não preciso nocautear minha consciência com maconha ou álcool, para conseguir dormir…”

SITE OFICIAL: O site de Carlos, como você pôde ler acima, localiza-se em www.carlosmaltz.com.br. Lá é possível ler uma biografia detalhada de Maltz e até curiosidades dos primórdios dos Engenheiros – como o fato da primeira formação da banda ter trazido, além de Maltz, Gessinger e do baixista Marcelo Pitz, o guitarrista Carlos Stein, hoje no Nenhum de Nós – além de crônicas feitas pelo próprio Maltz (boas, por sinal) e divulgação de serviços de astrologia.

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Vi no: Sana Inside.

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