30 anos do 1° teste de Senna na Fórmula 1
Fonte: Globo Esporte
Dia 19 de julho
de 1983. Naquela manhã de verão na Inglaterra, um jovem piloto de 23 anos realizava um sonho: pilotar um carro de Fórmula 1. Seu nome: Ayrton Senna da Silva. Era apenas o primeiro capítulo de uma história breve, intensa, e de muito sucesso, que começou e terminou na Williams. Àquela altura, Senna já era considerado uma promessa. Em pouco tempo na Europa, havia conquistado títulos em categorias de base como a Formula Ford (1981) e Formula SuperFord (1982). Naquele ano, liderava o campeonato da F-3 britânica, principal categoria de acesso à F-1 da época. Não faltavam equipes de olho nele: Brabham, Lotus, McLaren, Williams e Toleman. E, a pedido do próprio piloto, foi a escuderia comandada por Frank Williams a responsável por dar ao futuro tricampeão sua primeira oportunidade em um carro da maior categoria do automobilismo mundial. O dono e fundador da Williams, falou de suas apreensões sobre aquele dia.
- Minha visão de Ayrton antes do teste era
de um jovem que dominou todas as categorias juniores pelas quais competiu. Ele parecia estar em seu caminho até o topo. Por isso, eu estava com a mente aberta – contou Sir Frank.
O palco não poderia ser melhor para Senna, Donington Park. Lá, tinha vencido todas três as corridas que havia disputado nas categorias de base. O carro seria uma Williams FW08C, motor V8 Ford Cosworth, com o qual o finlandês Keke Rosberg havia se sagrado campeão mundial no ano anterior. Ayrton chegou ao autódromo, conversou com os mecânicos e entrou no bólido. Franzino, precisaria se adaptar ao cockpit de Keke, mais alto e pesado que ele. A jovem promessa fez os últimos ajustes e foi para a pista. Em poucas voltas, mostrou seu potencial, deixando todos impressionados. Cravou 1m00s5, cerca de um segundo mais rápido que o tempo anotado pelo piloto de testes do time, o britânico Jonathan Palmer. Ao fim de 83 voltas, parou nos boxes e foi almoçar. Foi aí que a “marra” daquele garoto fora da pista chamou ainda mais a atenção do dirigente da equipe.
- O mais intrigante era: ele veio para uma avaliação, conversou com os engenheiros começou a entender o carro. Então ele se virou, deu algumas voltas de instalação e passou a fazer trechos de cinco a oito voltas rápidas. Seus tempos baixavam, baixavam e baixavam. Foi muito impressionante, mas não mais do que quando ele chegou para mim após as voltas e disse “ok, é isso” e foi para o almoço. Eu pensei que ele ia querer ficar no carro o dia todo. Mas ele disse “não, estou feliz, muito feliz”. Respondi: “Foi o suficiente? Ok, obrigado”.
Naquele momento, Sir Frank conta que teve a certeza de estar diante de um piloto diferenciado.
- Depois, refleti sobre isso e pensei: “É um piloto que está totalmente no controle de tudo. Tem a própria maneira de fazer as coisas, seus próprios planos. Provavelmente será muito bom no futuro”. Ele achava que tinha feito o suficiente, entendeu o carro, fez boas voltas. Era o suficiente para
ele. Ele era muito inteligente. Tinha um grande carisma e controle de tudo que dizia e fazia. Era uma pessoa incrível em muitos aspectos – avaliou.
Diz a lenda que o chefão da Williams teria até pedido para os mecânicos colocarem chumbo no carro de Senna para que o jovem não fosse tão rápido. O objetivo seria que ele não chamasse tanto a atenção dos rivais, para que a equipe conseguisse contratá-lo em um futuro breve. Verdade ou mito, não seria para 1984. A dupla do time britânico para aquele ano já estava fechada, sob contrato: Keke Rosberg e o veterano francês Jacques Laffite, já com seus 40 anos. Além disso, Frank argumentava que não costumava contar com pilotos novatos em sua equipe.
Outra opção era a Lotus. O chefe do time, Peter Warr, desejava contratar o brasileiro para substituir um “tal” de Nigel Mansell, mas os patrocinadores do time exigiram a presença de um piloto britânico. Além disso, ciente de onde podia chegar na F-1,
Ayrton colocava diversas exigências em suas negociações, mesmo se tratando de um primeiro contrato. Como as conversas com Brabham e McLaren não foram para frente, restou a Senna ingressar na modesta Toleman. Daí em diante, o resto é história: passagens marcantes pelo pequeno time e, na sequência, pela Lotus. E uma carreira coroada com três
títulos mundiais com a McLaren, em 88, 90 e 91.
União entre Senna e Williams, só dez anos depois
A Williams teve uma joia nas mãos e deixou passar. Ficou em Sir Frank o desejo
de um dia contar com aquele jovem e abusado piloto que conheceu melhor naquela manhã de verão britânico. A sonhada união foi se concretizar apenas dez anos depois, em 1993, após uma conversa naquele mesmo circuito de Donington, justamente após uma das maiores atuações de Senna na F-1. Perguntando se não tinha algum arrependimento de não ter contratado Ayrton naquela oportunidade e ver a promessa se tornar um dos maiores mitos da história do esporte, Frank relativizou:
- Ayrton ganhou todas as categorias de base. Se ele tivesse falhado na Fórmula 1, isso teria sido mais surpreendente.
Quis o destino, irônico e cruel, que o casamento entre Senna e Williams durasse apenas três corridas e acabasse naquele fatídico 1º de maio de 1994, em Ímola. Um reencontro que tinha tudo para render uma bela história, acabou em lágrimas. Ayrton não teve tempo para brilhar com o carro azul e branco. Mesmo assim, piloto e equipe estarão unidos para sempre, através de um “S” estampado em todos os carros fabricados pela escuderia desde então.